terça-feira, 3 de agosto de 2010

O que você acha que é sorte?
Acho que sorte é produto do pensamento, do sonho. Eu acho que o pensamento é uma forma de ação às vezes mais eficaz do que a fala. Porque a fala é pervertida demais. A gente fala pra tudo. A maior parte do dia, a gente passa falando qualquer coisa ou jogando conversa fora. E aí tem uns momentos de iluminação, de franqueza. Mas o pensamento é uma conversa interna, a gente é muito mais franco e muito mais contundente no pensamento. Então, eu só tenho a opção de acreditar que o pensamento tem um poder de ação muito incrível. E que o sonho, no sentido mais amplo, no sentido do desejo, no sentido do afeto e no sentido literal do sonho, de dormir e sonhar, eu só posso acreditar que isso tenha um papel fundamental na construção do destino, ou seja, no caos, no acaso.


Explica melhor.
Eu tenho consciência de que isso é uma afirmação bastante perigosa, mas eu não me importo. Quando digo que eu tenho sorte, tenho que ser franco e dizer: “Pô, quantas coisas que eu sonhei se tornaram realidade?”. Coisa que sonhei no sentido amplo, não só no sentido direto de desejar ser músico, de desejar ter uma banda. Mas desejar ter amigos fiéis, entendeu? Lembro aquele filme Waking Life, do Richard Linklater. Tem uma cena em que uma criança brinca um joguinho, ela fala um número e puxa um pedaço de papel que tem uma cor, ou um número, ou não sei quê... o que interessa é que ela escolhe um dos lados e está escrito “Sonho é destino”. Aquilo me tocou como um ensinamento. Porque acho que as coisas mais banais têm um poder oracular. Eu não sei se eu me divirto fazendo isso, e aí funciona pra mim, ou se realmente é uma coisa que deve ser levada a sério.

Na verdade é uma questão de escolha. Se aquilo é de fato um oráculo ou se você escolheu ver assim... que diferença faz?
Exatamente. Voltando ao que a gente falou, uma das coisas que mudaram em mim foi justamente eu me sentir mais à vontade pra falar desse tipo de coisa. De não ficar mais preocupado em qual é a forma de pensamento estabelecida e desenvolver minha própria forma de pensamento, minha própria realidade e observação das coisas. Há quem discorde? Paciência.

Rodrigo Amarante [http://revistatrip.uol.com.br/revista/173/rodrigo-amarante/page-2.html]

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